29 de out. de 2010

Não Fumo



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“So please, please, please, Let me, let me,
let me, Let me get what I want this time”
-The smiths



Sou sempre a cobaia de mim mesma,
e sem teste, sem busca, sou a transparência que não quero ver.
Em dias felizes o sorriso é mais verdadeiro, é fácil.
Em dias felizes o caminho é menos longo,
Em dias felizes sou natural.
Nesses dias felizes sou distante de mim mesma.

Em dias ruins sou mais eu,
Sem medo, sem farsa, sem esforço,
Com cinismo.
E é aí que percebo do que preciso, e não tenho.
E outros podem ter, conseguem com tanta facilidade,
Pra mim não, é mais difícil, o simples torna-se inalcançável, o perto ganha distancia.
O possível é nulo.

A vontade de resolver um problema causando outro,
como o cigarro que é a saída de muitos, a solução momentânea.
Uma estratégia inteligente, pouco saudável.
Mas não precisamos de saúde se a doença que mata está intrínseca na alma.
Não fumo, portanto quero uma saída.

Gosto da frase de uma amiga minha: “Quando os pés estão descalços, que sandálias se tira para respirar?”

Nem sei mais o se o certo é esperar ou se é melhor ir à luta com toda a pouca força e coragem que tenho. Se tantas palavras já foram gastas, só me resta jogar as preciosas ao vento? Mas são minhas palavras, são os meus pés, é a minha alma, o meu coração; é todo esse amor que grita por liberdade, pra poder finalmente cumprir o seu propósito, o de amar.

Não há a pessoa certa, a ideal.
Basta querer, e quando se quer, nada mais justo do que permitir a primeira vez.

14 de out. de 2010

.......

“Sim, inverno, estamos vivos"
(Paulo Leminski)


A cabeça que pensa, pensa, pensa e não chega a lugar algum.
Fica tudo na mesma, o lugar é o mesmo,
mas eu não consigo imobilizar essa vida que se esconde dentro de mim.
Ela se camufla, não se revela, porque assim fica tudo mais difícil,
E quanto mais difícil mais ela se torna vida. E viver não é fácil.
Não falo de obrigações e rotinas, de diversões e horários definidos, é só uma parte dessa ampla vida. Falo daquilo de dentro, do abstrato que se materializa em nosso corpo.
Aaah, como é difícil sentir a dor de quem se reconhece vivo.
Acho que minha cabeça nem fala mais de coisa com coisa, porque não há razão praquilo que não existe no cotidiano. Mas o cotidiano é tão pequeno e nosso ser é tão extenso.
O ser é o que você tem, ou não tem, mas de alguma forma, tem tentado alcançar. Ou não. Talvez seja mais fácil viver sem mistificar, sem teorizar, sem duvidar, sem questionar, sem pensar... Mas viver não é isso.
E o inverno concorda comigo.


Grande e pouco resto.

8 de out. de 2010

Eu, mas você.

Mas você não tem forma.
Eu canto porque gosto de me ouvir quando penso em você, sou diferente.
Mas você nunca foi em minha casa.
Eu penso que as flores poderiam falar, andar e cantar, porque elas te deixam mais belo.
Mas você não sabe ser feliz.
Eu busco você em todos os movimetos estranhos que me assustam quando estou distraída.
Mas você não gosta de sair pra passear.
Eu lembro de você quando o meu vizinho chega buzinando com o carro dele; nunca é você, você não sabe dirigir.
Mas você não se arrepia em filme romântico.
Eu leio as revistas e os jornais pensando que sua inteligência seria um estímulo pra minha estagnação mental.
Mas você nunca leu Dostoievski.
Eu gosto do seu sorriso. Ele é tão cheio de paz e é como aquela canção que nos embalou no nosso primeiro encontro imprevisto.
Mas você não sabe ressaltar seu brilho.
Eu lembro das suas palavras... “eu gosto de cachorro. Ca-cho-rro é amigo do homem....Ser homem é s-e-r estranho”...uma frase inteligente dita sem pensar que me fez não tirar os olhos de você.
Mas seus olhos verdes não são confortantes.
Eu sei que sua mão é macia. Você passou ela pela minha uma vez, sem vontade, e eu a senti, e ela é macia, do jeito que minha aspereza precisa.
Mas você gosta de Samba.
Eu gosto do seu andar, sem pressa, mas sempre anda como alguém que sabe o que quer, como alguém que já tem o destino traçado.
Mas sua vida é baseada em horóscopos.
Eu gosto da sua educação, me faz pensar que seu quarto é limpo, mas nunca fui na sua casa.
Mas você tem medo de quase tudo.
Eu quero beijar você.
Mas você não sabe cantar.


restinhos da madrugada